sexta-feira, dezembro 29, 2006

Conto Pra Ti (fragmento)




Antes de partir, não disse nada. E se voltou o olhar para esquerda, foi pouco. Ali, onde ainda pisava, já não estava mais.
Os passos arrastavam sua longa saia que com o cair da chuva não se enxergava mais o mesmo branco. Branco úmido, que agora também se encontrava o vermelho que escorria das flores e de qualquer outra cor que se acumulava ao andar de cada passo.
A rua parecia empurrá-la para onde em uma hora, poderia-se talvez chegar. Não havia procura. Nem uma paragem.
Já era noite, e o trajeto insistia ao brilhar no asfalto molhado. Agora não resta mais nada, é só seguir. Vá em frente, moça! Confie em mim. Alguém, procurava distraí-la com vozes primeiramente inocentes. Enquanto por uma próxima esquina apareceriam outros pequenos, que logo rodopiaram em sua volta, cantarolando com mínimos brinquedos que piscavam em suas mãos. A quem olhava, parecera uma dança, talvez.
Já era noite, e não mais chovia.
Os olhos continuavam fixos e sem chances de qualquer outro olhar. Os lábios permaneciam apertados e as mãos ainda carregavam o papel de levantar a longa e pesada saia que não mais era branca e úmida. Então, já não possuía apenas a mancha vermelha de flores e de outras mais somadas ali. Havia o peso de sua saia, carregada em água, cores, flores, desejos, ilusões... E agora, a cada andar daquela rua começaria a se deixar esses desejos, ilusões e essas cores, possivelmente retornando ao preto, e dando as mãos a um novo branco, como esse fundo agora, onde escrevo esse conto pra ti.